segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Hipocrisia


Fácil relatar perfeição que não existe em declarações de amor. Como nos cartões de boas festas que se renova a cada ano as felicitações válidas até o próximo ou no dia do seu aniversário. Maquiagem da nossa despreocupação com o outro, prefiro citar, individualização. Sempre enxerguei muito bem meus problemas, meus defeitos, meu temperamento. Talvez porque quanto mais pobre ou mais perto da pobreza nos encontramos, mais realistas nos tornamos. Nunca tentei me enganar, atuando por uma aspiração. Também nunca tentei melhorar. Desde sempre a mesma mula empacada.
Não tenho nenhuma história impressionante para contar... Nenhum dos meus sonhos se tornaram realidade mesmo os que eu não contei à ninguém, tampouco os que eu contei; nunca fui carregada pelo principe encantado num cavalo branco; meu aniversário nunca foi a combinação de números da loteria; nunca vi gente morta; nunca me provaram o contrário sobre a minha descrença com milágres; nunca achei pasta de dinheiro; nunca pulei de bugge jump; nunca tentei me jogar d'uma ponte; nunca "sai por ai sem rumo"; nunca achei um barato tomar banho de chuva como nos filmes; não me recordo de nenhuma feliz conscidencia; nunca esbarrei com um cara numa esquina que me deixou tombar meus livros e ao nos olharmos, nos apaixonamos perdidamente; bom logo esclarecer que nunca tive paixões à primeira vista; nunca dei meu telefone pra ninguém em boates, portanto, nunca fiquei esperando o telefone tocar como uma encalhada; nunca ninguém abriu a porta do carro para mim, talvez porque eu abra a porta antes do carro parar completamente; nunca lavei pratos de restaurante para pagar a conta; nunca descobriram que havia petróleo, diamante, ouro ou qualquer preciosidade em meu terreno; nunca me salvei da morte; nunca catei carangueijo, nem amassei cacau com o pé; nunca agarrei nenhuma grande oportunidade porque nunca as tive, nunca consegui tirar nenhum caco de vidro do meu pé, nunca fiz quimioterapia, nunca o copo e o compasso mexeram sozinhos naquela brincadeira... nunca, nunca, nunca (...) Realmente, nada de interessante para contar.

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Compromisso ético:

Detalhe SUPER importante sobre este blog:

O que está em roxo fui eu quem escreveu. O que está em vermelho, é de alguém, que eu li, curti e pensei "Caramba, que bacana! Eu queria ter escrito isso!".



* Preservo assim os direitos autorais alheios, posto que gostaria de que preservassem os meus.