Para o curso de Administração da La Salle

1)Palavras como poder e confiança são constantemente analisadas na moderna gestão de pessoas.Tendo em vista os seus funcionários,como você lida com essas palavras em seu dia a dia ?

Dou poder a todos meus funcionários, independente da hierarquia. Divido a escola em grupos e salas e cada uma é dona da sua própria sala e turma. No caso de 2 funcionárias na mesma sala, como é o caso da professora e sua auxiliar, deixo claro que ela não será subordinada a professora, passo o entendimento que são funções diferentes apenas. Uma tem poderes pedagogicos e a outra tem poderes no que envolve a rotina da criança (remédios, troca de fraldas, manter a ordem, preservar pela vida das crianças)... Cada uma tem uma parte para cumprir.
A cozinheira é "diretora" da cozinha. A auxiliar do banho é "diretora" do banheiro. O auxiliar geral é "diretor" de limpeza, manutenção e organização da escola. Ele limpa e trata que continue limpo, ele conserta e trata que continue funcionando, mas ele pode puxar a orelha de quem quer que seja que de alguma forma esteja atrapalhando o serviço dele.
Acima delas estão as Pedagogas, que conseguem desenvolver seu trabalho sem precisar de imposição.
Quanto a confiança, caso não haja, tenho que dispensa -los e procurar outros. Pois minha empresa trata-se de uma creche, pequena, localizada em uma área nobre de Niterói, atendo um perfil peculiar de famílias e atendemos crianças desde os 2 meses até 5 anos de idade. Não possuimos cameras ainda. A confiança, para a minha empresa, é mais importante que inclusive experiencia. Preciso confiar, preciso acreditar...

2)Quando um novo funcionário é contratado qual o programa de socialização geralmente usado em sua escola?Por que ele foi escolhido??

 A escola é pequena, são atualmente 9 funcionários na escola. Quem apresenta as funções daquele novo funcionário é sempre a equipe e nunca eu. Assim elas vão se conhecendo. Entretanto, dificilmente faço contratação por curriculos enviados e assim, contrato desconhecidos...Quase sempre ocorrem por indicação das minhas funcionárias, de amigas da faculdade e assim eu posso ter acesso não somente a formação profissional e experiencia de um candidato, mas ao perfil psicologico, comportamento e se aquele funcionário irá atender as expectativas, se é uma pessoa paciente para conviver com crianças, e se ele irá se integrar num trabalho onde as cobranças são pequenas, o funcionário sabe seu dever e o cumpre, sem que hajam supervisões... Se por esta razão não irá trabalhar menos ou acomodado. Eu demito funcionários que por razão da minha ausencia, se aproveitam para trabalhar menos, pois eles sobrecarregam e demitem aos demais. Eu não preciso supervisionar, os próprios funcionários fazem a denuncia de que aquela pessoa não está interessada ao trabalho e não está ajudando.

3)Você se considera uma líder?Se sim por que?Se não,faz algo para tentar passar essa imagem?

Sim, me considero. Conheço a diferença entre lider e chefe e me coloco como lider dos meus funcionários desde quando assumi o gerenciamento da minha Empresa, inclusive pela minha experiencia como funcionária anterior, a qual tive excelentes chefes com este perfil de liderança. Em minha curta experiencia como funcionária, percebi que não era preciso ordens, apenas que os funcionários estivessem cientes do propósito da Empresa e que o crescimento da Empresa significasse em contrapartida, crescimento dos funcionários também. Foi esse lema que tratei de deixar claro a todos os funcionários que entraram na minha Empresa, que o ganho não seria apenas meu, mas também deles. No perfil de líder, temos uma rotina que deve ser seguida e que todos são apresentados desde o primeiro dia, e tenho tolerancia com pequenas falhas, pois não me falta reconhecimento pelo todo resto. Condeno ambiente de trabalho que não tenham bom clima e considero fundamental que a Empresa se veja como uma Família, repetindo em reuniões aos novos e aos que já estão, já sabem que não passa apenas de um discurso, mas que de fato, passamos mais tempo juntos do que com as demais pessoas de nossas vidas e por isso, é fundamental que haja integração entre todos, inclusive comigo, pois somos uma máquina e todas as peças da máquina, grandes ou pequenas, são importantes para que ela funcione. 

4)Como você motiva seus funcionários?

 O primeiro ponto é o respeito ao pagamento e acordos verbais que faço. Jamais prometo algo que não cumpro, jamais atrasei sequer um dia de pagamento, jamais desrespeitei um direito dos meus funcionários e sempre me preocupo com as questões pessoais deles. Isso não é algo combinado ou que ocorre porque li em um livro ou qualquer coisa assim, acontece, porque é do meu caráter mesmo respeitar os direitos das pessoas, não me apropriar da boa fé das pessoas comigo sem em troca ter algo sincero a oferecer. 

Sou extremamente sincera e me coloco a ouvir os funcionários. Trabalho com escola e as mensalidades vencem do 5 ao 15 em boleto, o banco demora 3 dias úteis para me repassar esse crédito na conta e todos meus funcionários sabem disso. Eles sabem que o meu compromisso é pagar no dia 17 de cada mês, mas começo a pagar no dia 4 de cada mês aos funcionários mais antigos e termino com a funcionária mais nova no dia 13, 14... no máximo. Quando percebo que por alguma razão não conseguirei efetuar o pagamento antes do dia 15, faço questão de avisar e perguntar se há algo que eu possa fazer como pagar um cartão (que contem juros altissimos) ou alguma conta a vencer para que não a prejudique por isto. Entretanto, jamais, em nenhuma hipótese, paguei depois do dia 17 conforme o combinado, sequer com greve de bancos ou qualquer problema que as pessoas inventam para justificar o não cumprimento dos seus prazos, quando necessário, recorro a minha poupança e resolvo isso.
Esse é um ponto que todas se sentem satisfeitas, a certeza do salário combinado, no dia combinado. São auxiliares de creche, que tem experiencia / trauma de creches governamentais atrasando 3 meses de salário... E sabem que na minha empresa, isso jamais acontecerá.
Permito que me participem seus problemas pessoais e não as deixo envolver com sistema de crédito ou agiota. Sempre instruo os juros cobrados são abusivos e que não compensa... Mas a realidade por vezes é dura, e quando lhes ocorrem um desespero pessoal, um remédio para comprar ou algum outro problema, sentam e conversam comigo, e sabem que podem contar com vales, que parcelo sem juros e desconto no próprio contra cheque. Eu faço isso pois a minha empresa depende delas, o bom serviço delas, é a garantia da permanencia dos meus clientes e renovação de matricula e o que elas fazem por mim e pelo meu ideal, merece que eu, também faça por elas.
Eu dou recompensa extra a quem não se atrasa sequer 1 minuto durante o mês no salário. Dou vale presentes a auxiliar de banho quando a conta de água não ultrapassa um valor economico que estipulei. Deixo -os livres para escolherem as férias e a forma de gozo, inclusive permito que deixem 1 ou 2 dias para o próprio aniversário. Permito que por alguma razão pessoal, faltem ou se atrasem ao trabalho, desde que me justifiquem e por razões que a lei não contempla e que também não sejam abusivas: Fatos ocorridos este ano: levar o pai de 50 anos, lucido e capaz, à consultas médicas (com suspeita de cancer de prostata), levar o filho de 15 anos para tirar gesso das pernas, ficar com o filho em casa que tomou vacina e está enjoadinho, fazer chá de bebê na escola e ganhar fraldas e outros de todos os pais da escola, receber entregas programadas, trocar de horário com outro funcionário por razão sinceramente justificada de único horário de depilação, manicure, consultas médicas, aniversário de um parente... Eu apenas exijo que seja verdadeiro, que não atrapalhe o andamento da rotina, que seja organizado e que não seja abusivo. É um direito que todas tem, não apenas uma ou outra.
Pago as passagens em dinheiro, mesmo que a lei exija o Rio Card, pois sei que alguns andam a pé e guardam o dinheiro da passagem para somar no salário.
Utilizo o índice do DISSID para aumentar o salário inclusive de quem não recebe salário mínimo.
Permito que os funcionários façam rodizio nas sexta-feiras posteriores ou segunda anteriores a feriados. Assim metade do grupo trabalha em uma véspera de feriado e a outra metade não trabalha na outra véspera. Como trata-se de uma creche pequena, sempre em véspera de feriado, as crianças faltam e fica desnecessário tantas pessoas de fato. Eles mesmo se organizam quanto a isso, conforme acham melhor.
Assino as carteiras, pago fgts e inss regularmente, jamais atrasei, gozam de férias.
Não contrato novas funcionárias com filho pequeno. Dou bolsa na creche integral para as funcionárias antigas que engravidam.

5)Diante as suas experiências,antes de chegar a ter sua própria empresa quais são os pontos positivos que você faz uso em seu cotidiano e acredita ter absorvido de seus então gestores?

Estavam contratando digitadores de boletim de ocorrência, com a máscara de ser um estágio para Psicologos na Policia Civil. Estava querendo fazer algo e me candidatei, fui contratada. Eram 6 horas de trabalho, sem intervalo para lanche, sem passagem, sábado e domingo, apenas digitando boletins de ocorrencia de Delegacias não "legalizadas", ou seja, que não possuiam sistema online e ainda utilizavam a máquina de escrever. Esses boletins deveriam constar no sistema do Governador do Estado como maneira de estatísticas e tinham vários itens para serem preenchidos, em computadores extremamente velhos e lentos, cadeira não confortável e ar condicionado que constantemente vivia quebrado.

Esse era o ambiente de trabalho. Lá, me coordenavam 2 policiais civis, o Edson e a Lilian, casados e chefes deste setor. O salário era pago pelo governo e por nenhuma razão existiriam bonificações e o emprego era temporário, sem nenhuma chance de contratação, pois seria necessário concurso público.
Eram 60 digitadores na mesma sala e 2 turnos: manhã e tarde. A cobrança era rigorosa, pois os boletins que iriamos digitar eram antigos demais e o Governador precisava desses dados online. Eu aprendi rápido o que deveria ser feito e simplesmente o fiz. 58 digitadores conseguiam colocar em média 16 boletins no sistema, eu terminava as 6 horas com mais de 40 boletins digitados.
O Edson e a Lilian começaram a me reparar, a mim e a um outro digitador que tinha o mesmo empenho. Nós não ganhavamos nada a mais por produzir 3 vezes mais que os demais digitadores e também não ganhariamos menos se passassemos a digitar o mínimo, como muitos faziam... Como disse, não era o Edson quem pagava nosso salário, era o Governo.
Vendo a minha eficiencia, ele sempre dispensava a mim e a esse garoto quando considerava suficiente, isso significava sair 1 hora mais cedo. E mais rápido eu digitava e mais boletins eu colocava no sistema. O trabalho era apenas sábado e domingo e ele me dispensou 2 vezes, uma vez que estava triste por ter terminado um namoro e outra vez que pedi, pois queria ir a um batizado. Por conta própria, sem que ele me pedisse, cheguei a pegar 2 turnos: manhã e tarde, como forma de agradecer e mostrar que ele poderia continuar contando comigo.
Passado 3 meses, o contrato acabou e o Edson ficou apenas com 8 digitadores e dispensou todos os outros. Nós continuamos digitando e o clima era muito bom, juntavamos dinheiro e faziamos lanches coletivos sempre, fizemos amigo oculto no final do ano... Havia parada para esticar o corpo... O Edson e a Lilian eram muito bem humorados, falavam da vida pessoal deles, perguntavam da gente, viramos uma turma de amigos. E ele dizia que era assim que ele gostava de trabalhar: com pessoas produtivas, bem humoradas, camaradas.. Entendia as questões pessoais de todos, se entendessemos o nosso objetivo ali: colocar os boletins para o Governador. Ficava preocupado com a nossa saúde e por vezes, no meio da empolgação, digitando, ele dizia "levanta, vai dar uma volta...". Ele sabia que o esforço repetitivo poderia culminar em alguma lesão e isso nos impediria de trabalharmos, então ele não gastava até o nosso limite, ao contrário, nos preservava sempre. Meu marido trabalha numa empresa que tem outro raciocinio, gasta os funcionários até o limite deles, então eles não ficam muito tempo na empresa, não gostam do trabalho, constantemente conseguem atestados frios para descansarem da pressão que trabalham, vivem estressados. Eu jamais gostaria de trabalhar numa empresa assim, muito menos, ser o administrador que promove esse tipo de ação, considero ignorancia.
Voltando a Policia, então terminamos a missão e colocamos todos os boletins disponiveis ao Governador e o grupo se desfez, ele nos indicou outro Estágio para a Policia Civil, mas eu acabei indo trabalhar de carteira assinada em outro lugar e não continuei. Mas eu me sentia muito motivada por aquela forma de gerenciamento e quando comprei a minha empresa, pensava no perfil dele como administrador. A gente brincava, mas a gente trabalhava, todos em pról do mesmo objetivo e quando um terminava... Ex: Eu tinha digitado 38, o meu amigo 40, ele pegava o meu último boletim e iamos embora todos juntos, por vontade própria, sem que eu pedisse ajuda. Eu peguei várias caracteristicas positivas da Policia e internalizei elas, acreditei nelas, as vi como corretas, como eficientes, como o caminho certo e repito em minha Empresa de uma maneira muito espontanea.