quinta-feira, 1 de março de 2012

Resposta.

Ô, C....... Eu sei.
Eu te escrevi porque eu sei disso tudo. Não sei dos detalhes e pormenores, mas eu sei o que ele significou exatamente na sua vida, como você me conhece há tantos anos sabe de mim. E embora qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, não é maior que o meu sentimento de compaixão neste momento muito difícil.
Eu sei o que é a morte. Mas enxergo de uma maneira muito menos crédula que você. Tenho príncipios católicos, mas não consigo aceitar e superar de verdade. Nada me faz aceitar e superar, continuar... aquela sensação de ele foi e não volta mais, não me abandona e por vezes me parece insuportável. Logico que não estou falando do J, estou falando do meu pai, que é talvez o grande trauma da minha vida... E por eu não saber encarar bem, eu me coloquei no seu lugar, mas como eu própria, com meus sentimentos, com as minhas angústias, traumas e eu estaria muito desnorteada.
Fico mais aliviada em ver que você se agarrou a um conforto qualquer, porque até hoje não consegui me agarrar a conforto nenhum com relação ao meu pai. Talvez porque não tive essa oportunidade que vc teve de dizer tudo que sentia, de ficar bem, de viver tantas coisas...
Mesmo que feliz e amando outra pessoa, isso que vc está sentindo agora, não tem a ver com amor ao J, mas um vinculo que se estabeleceu pelos anos que vc tem de vida: 24, sendo 12 como criança + 6 com adolescente e + quase 7 como adulta. E nestes, 8 anos existiu de alguma forma, plena ou não, uma pessoa que participou dos seus dias, do seu amadurecimento, que mexeu afetivamente com vc, que foi a única, nesse tempo todo, com um envolvimento mais profundo... E eu tenho certeza que a cada desilusão com outras pessoas que cruzaram seu caminho depois do término, vinha em algum momento uma sensação de que era o J o seu destino, porque uns vinham e outros iam, mas ele permanecia. Mas de repente, de maneira muito irônica, absurda e inesperada, que são 3 adjetivos ruins para um falecimento... essa pessoa não permanecerá mais.

Eu sou muito sentimental. Eu boto realidade no meu sentimentalismo que só eu consigo enxergar. Eu provoquei um mal estar entre vocês dois de forma pensada, pela minha decepção. Eu desejei de alguma forma estragar (e essa é a pior palavra que eu posso usar, acho que não intencionei tanto) o que havia com vocês, da mesma forma que estragou-se (e esta palavra não é adequada também) o que havia entre eu e A. E quando ele faleceu, isso saltou a minha consciência. Eu vim aqui dizer tudo isso não porque eu quero me reaproximar de você, mas porque eu acredito que estou num grupo pequeno de pessoas que reconhecem o tamanho da sua dor, porque participaram desta história junto com você. Eu não fui o casal que ia com vocês à todos os lugares, mas eu era a pessoa que te ouvia e te fazia me escutar. Você tem imensa representatividade na minha vida também e se tivesse sido VOCÊ e não ele, eu teria um outro trauma da morte... Das coisas que deixei de te dizer. Talvez algumas atitudes minhas tenham feito parecer que algo desta amizade não era a mesma, algumas queixas suas que por todo meu coração e honestidade, nunca imaginei que você as tivesse e que soube por A e pelo próprio J. Eu acho que de tudo na vida, o único momento que eu te desrespeitei, que eu faltei com amizade com você de forma consciente e pensada, foi quando eu procurei o J para fazer tremer o chão de alguém e não somente o meu. Porque embora o A não represente hoje nada, o fato de imaginar as coisas que me falaram que aconteceram, na verdade, me fazem me arrepender do tempo e do esforço gasto com ele nos 3 anos que mantivemos relacionamento. Eu guardei essa bronca por algum tempo, mas depois, com o próprio A conversando comigo, fui dissolvendo ela dentro de mim. É que eu acho que você própria não faz idéia do quanto eu sempre considerei a sua amizade. Sempre senti uma afinidade à sua alegria que mesmo que não sentisse, ofertava aos que se aproximava, sempre me empolgou muito o seu jeito. Eu já sei das suas queixas com relação à mim, mas eu quero que saiba, exceto quando fui ao J, garanto que não agi propositadamente, foi talvez um descuído.

Peço desculpas aos inúmeros descuídos.
Eu sei que você acha que eu vivo trocando de amizades... E eu acho que eu faço isso mesmo, que eu não tenho um dom certo de cativar meus amigos, as vezes me isolo em mim e esqueço de dizer e manifestar o quão importante eles são para mim. Eu deixei você ir, porque assim você quis e continuarei respeitando se assim você quiser permanecer. Mas eu precisava dizer tudo isso, porque se você ou mesmo eu, tiver em alguma situação irreversível e que Deus nos livre disso e dê muita vida, eu pelo menos coloquei para fora aqui tudo que estava me apertando.

D.

Nenhum comentário:

Compromisso ético:

Detalhe SUPER importante sobre este blog:

O que está em roxo fui eu quem escreveu. O que está em vermelho, é de alguém, que eu li, curti e pensei "Caramba, que bacana! Eu queria ter escrito isso!".



* Preservo assim os direitos autorais alheios, posto que gostaria de que preservassem os meus.