sábado, 16 de dezembro de 2006

partos sempre servem de inspiração

Farta. Criei fadiga. Preguicei. Chega de denunciar a sociedade que só consome e come, a mídia que sensacionaliza e despolitiza, os homens que mentem e... mentem. O meu apelo hoje é ambiental: Deixem o elefante em paz. Nada mais de cantar que o grandão incomoda muita gente. Eu vou sacratizá-lo. Afinal, o elefante nunca esquece.
Encontro-me cada dia mais petrificada com a minha capacidade de esquecer. Efeito degenerativo, pergunto-me se é uma patologia pessoal gerada pela insensibilidade ou um vírus que ronda por aí. O caso é que minha frase preferida tem sido: “Ih, esqueci”. Nada surpreendente em tempos que as fotos não são mais impressas, nem coladas num álbum junto ao desenho de sua mão quando criança e um pedacinho de cabelo. Tenho um desse pra lembrar dos velhos tempos. Todos deveriam ter.
À alguns dias para o parto de um ano novo branco com roupas íntimas coloridas, pulando 7 ondas, e Tim-tins, me comovi com a idéia de tantos momentos terem tentado excitar minha memória e nem sequer terem chegado à minha cama no fim do dia. Aos que quebrei o coração, como perspectiva para 2007, sugiro este segundo encontro, relembrando, aleatoriamente, do que esqueci em 2006.
Inicial e lamentavelmente, esqueci de três affairs fundamentais. Esqueci o quanto amo minha mãe, e o quanto ela me faz falta como amiga, conselheira, suporte. Nós nos parecemos tanto, que a teimosia em dose dupla torna a ressaca mais difícil de curar. Esqueci o quanto amo meu irmão, e o quanto está longe e sozinho no momento. Sua decisão para mudar-se pros EUA foi tão fullgás que o meu bom senso não encontrou tempo de abrir a ferida, que começa a doer agora. Esqueci a importância que minha melhor amiga tem na minha vida, e que passa agora também um tempo fora na Nova Zelândia. Espero que ela se esqueça que aquilo é um paraíso. E volte. Por favor.
Esqueci também que tinha planos para aprender e aperfeiçoar o francês em um ano. Deixa pro próximo. Esqueci de fazer um diário de viagem na minha primeira e mágica ida à Las Vegas. Deixa pra próxima. Esqueci do cinematográfico tombo que tomei enquanto corria na esteira em plena semana de adaptação à nova academia, e que deixou um roxo registrado no O DIA numa sessão de fotos que era pra ser atraente. Que não haja o próximo. Preciso de ginástica pro cérebro.
Esqueci de tirar a segunda via da minha carteira de identidade, mas isso já faz dois anos. Não entra na lista. Risca. Esqueci de terminar de ler A Casa dos Budas Ditosos, e também esqueci o livro na cadeira do salão. Se não fosse aquela capa em tom cereja quase erótico e sua ilustração completamente erótica, teria passado despercebido, mas ainda me lembro da vergonha que senti quando a secretária me ligou com a questão: “Este livro é seu?” Sim. Pornô literário, querida, não se esqueça você também.
Mas se trabalhasse pro circo, acho que também ganharia uns amendoins. Ingressei na faculdade que queria, no curso que queria e estou convicta do que quero. Grande felicidade. Finalmente, tive meu primeiro namorado e foram os quatro meses mais simples e tranqüilos da minha vida. Hoje, entendo que aquilo que realmente deveria ser amor, e não os meus relatos de paixões depressivas e viciantes. Saudades. Tenho meu próprio apartamento, meu próprio carro e meu próprio gato. Luke. Ocupei grande parte do meu tempo com festas e algazarras pra entender agora no fim do ano que pouco valeu a pena, mas gosto da parte das danças, confissões, paquera, e auto-estima. Quanto a esta última, também obtive progresso. Tenho plena consciência de muitas das minhas qualidades, a ponto de uma professora insegura da faculdade me taxar de arrogante, e se estou solteira, desempregada e carente, é porque não encontrei algo ou alguém tope me desafiar. Melhor pensar assim, experimentem. O ano foi veloz em sua passagem, mas generoso em sua contribuição.
Votos pra 2007? Quero amar mais, trabalhar mais, viajar mais, ajudar mais, aprender mais, lembrar mais. Sorte do Dumbo, que além da memória, ainda tem aquelas orelhonas para ouvir mais. Nisso, ainda preciso de prática! Feliz 2007

[ Texto por Loren Ribeiro, amiga ]




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* Dora Tavares *:
A-L-E-L-U-I-A! Sabe quantas vezes eu entro no seu profile buscando por uma atualização? ahuhauha
Vc tb é cultura... Aprendi o termo "introspectivo" com vc. Mas o que é fatiga? Li 5 vezes... Toda vez que lia, vinha 'fadiga' substituindo automaticamente na cabeça.
Aliás, as 5 vezes se aplicam a não somente o fatiga, mas como todo o texto. Eu já disse que adoro as suas pontes de pensamentos? Metafora é coisa pra pessoas inteligentes.

* Dora Tavares *:
Todo começo de ano eu faço meus planejamentos... Quero ler pelo menos 3 livros, conhecer pelo menos 2 lugares novos, fazer pelo menos 2 cursos... Basicamente, tudo que me desejo é cultura e amor. Não precisamos de muito mais não. O resto é fácil! Se não está à venda, é de graça.
Mas estava inclusive a começar a escrever sobre isso, salvo no Word. Muito porque animada pelo ritmo enganoso, porém imortal, de que no "parto" do fim de ano (adorei essa expressao), tudo se modificará. Mas se olhar bem, isso é só um retardamento... Bem similar ao que passam as gordinhas como eu, que sempre deixam o regime para segunda feira. Temos que correr mais... Correr atrás do alvo, seja ele qual for e onde estiver.

Mas o que eu mais gosto nos seus textos é sua auto confiança. É sua maior marca! Deixa a gente até achando que mesmo o errado está certo. Ô menina que deve ter dado trabalho para os pais! rs Mas eu não gosto de pessoas que carregam suas falas de choramingações, enfim... Que querem fazer papel de coitadinhas.


* Dora Tavares *:
Vc é convicta. Como uma mensagem subliminar: "Não tá perfeito, reconheço. Mas e dai? To feliz assim, oras!". Gosto desse seu tom abusadinho também.
Ao acaso, vc ve a novela do Manoco? Nem tão igual, tampouco tão diferente... Mas aquele cara da cadeira de rodas carrega um tom debochado, ironico e ao mesmo tempo verdadeiro, engraçado que ele é aquilo que se chama de adorável odioso. Eu gosto disso! Gosto das suas ironias. Pois é, deixem o elefante em paz. Se bem que combinaria mais com vc que o apelo ambiental fosse a respeito do gato que atiraram o pau e não morreu. Não seria original para mim, já li em algum lugar... Mas vindo de vc seria. Todo mundo sabe do seu forte carinho pelos felinos.


* Dora Tavares *:
Olha Loren, sinceramente, não vejo a hora em que pelo menos uma das revistas que assino, venha com uma coluna sua. Tenho orgulho desde já.
Não posso esquecer: Me perdoe a cara - de - pau, mas essa sua crônica vai para o meu blog. Gosto de por lá as melhores coisas que já li por ai e que me identifiquei... para reler quando a mente quer descansar. Gosto mais ainda quando é assinado por uma pessoa mais próxima a mim do que Arnaldo Jabour, Veríssimo, Clarice ou outros gigantes ai que eu admiro.

Não preciso fazer mais nenhum comentário.

Ah, Loren... Última "pelação-de-saco-verdadeira": Tenho uma curiosidade. Qual sua dificuldade? O que vc definitivamente não conseguiu aprender? Nunca conheci uma pessoa tão versátil em seus talentos, sabe... Atriz, dançarina, fotogenica, escritora e ainda com um CR tão alto. Nem Einsten conseguiu tanto!

Ahh! E por favor, me convide para almoçarmos ou lancharmos num desses bons estabelecimentos que temos por aqui, viu dondoca? Tenho saudades! Beijos.
* Aguardando a próx



Um comentário:

Anônimo disse...

Dora! Mais uma vez, fico muito contente com o carinho com o qual se dispõe a qualificar meus textos e enaltecê-los quando merecem. Reconhecimento sempre é bom para estimular mais produções, mais reflexões... OBRIGADA, viu?!?!
O nosso almoço será marcado em breve, deixa só passar a loucura de Natal e Reveillon.
Grande beijo!

Compromisso ético:

Detalhe SUPER importante sobre este blog:

O que está em roxo fui eu quem escreveu. O que está em vermelho, é de alguém, que eu li, curti e pensei "Caramba, que bacana! Eu queria ter escrito isso!".



* Preservo assim os direitos autorais alheios, posto que gostaria de que preservassem os meus.