amizade

Fotografia de Renata Sheeny

Minha vó me contou que o meu primeiro contato com a escola foi de uma natureza bem 'florestal'. Que eu era tão bichinha do mato, que ela tinha que ficar na escola comigo, senão eu abria o berreiro e assustava as outras criancinhas. Analisando essa fase, com a minha visão de estudante de mim mesma e de psicologia, creio que eu tinha um certo receio de conhecer o que estava atrás dos muros brancos e altos que separavam e protegiam a minha casa do resto do mundo.
Aí eu fui crescendo e essas coisas foram mudando. Fui me adaptando ao tal mundo... Adorava expor meu horroroso sorriso metalico acompanhado de óculos garrafais, era faladeira e visava colecionar amigos. A cidade toda (isso não quer dizer muito, já que estou falando de Araruama) me conhecia ou já conhecia alguém que me conhecia. Embora isso não queira dizer que era adorada também por todos.
Quem diria... A única recordação dos tempos de bichinha do mato é uma daquelas fotos que a gente tira no colégio com a turma toda e nos vendem pelo equivalente ao album todo, em que eu apareço querendo me esconder atrás da professora.
E embora tenha passado por uma fase bem turbulenta e requisitada, mesmo tendo conhecido tantas pessoas em tão pouco tempo, cheguei aos quase 19 anos com pouquissimas amizades... vide minha agenda telefônica do celular e contatos de msn.
Há não muito tempo, a tese de que eu tinha dado um giro de 360 na minha vida (aquela coisa... gira, gira, gira, do alto ao baixo, mas no fim volta tudo pro mesmo lugar) não tinha sido desmentida. Eu, que nasci sem vontade conhecer o lado de fora do muro, guardava ainda vestígios da menina florestal dentro de mim. Minhas únicas amizades eram minha prima e minha irmã. Agora eu sei que posso acrescentar mais três pessoas que apareceram sem medo: Carol, meu namorado e vc.
Cara, eu sei que a pergunta alí em cima é o que eu tenho a dizer sobre vc,
e eu na verdade só falei de mim mesma... Mas esse depoimento não é pros seus amigos.
Em muitos momentos da minha vida, me senti de fato sozinha, passei umas coisas que ninguém imagina, chorei, me desesperei, entrei em pânico, sofri... (adoro sofrer. Sou dramática, me sinto poetiza) Depois, mesmo sem contar os meus conflitos internos, eu sentia uma forte energia vinda destes poucos amigos. Por várias vezes senti com vc. É exatamente isso que te faz tão importante para mim.
Vc apareceu quando ninguém mais queria saber de mim. Vc remou contra... Enquanto todo mundo estava me esquecendo, vc queria me descobrir.

E é esse o meu jeito de gostar das pessoas, é esquisito, já chamaram até de doente... Sei lá... Eu nunca dei muita moral pra amizades recentes. Eu continuo achando que um filósofo americano estava certo numa frase que li há uns 6 ou mais anos: 'amigo é aquele que mesmo depois que te conhece a fundo, continua te admirando', na hora eu ri, achei que fosse piada. Mas é verdade, sabe! Então eu não me sinto responsável de cuidar daquilo que cativei, é o que responderia ao pequeno príncipe. Mas dai que tu veio pra quebrar o que era regra pra mim... pq eu sempre gostei de analisar as coisas que regem sobre mim; e amizade é um dos temas prediletos. E tu veio como quem não queria nada senão a minha amizade, sem interesses secundários, sem pedir nada, apenas me oferecendo. Eu, aquela que se dopa com medicamentos pra esconder um pouco da carência e medo de solidão que atormenta e se esconde num sono profundo porque não quer aceitar a condição de ficar acordada vendo a banda passar não pela janela, mas pelo computador. E embora eu seja assim, não significa que eu esteja de portas abertas para que todos entrem. Eu hesito o tempo todo, eu sofro tendo medo de sofrer. Eu me sinto como Nietzche se sentia, mas ele em relação a uma mulher, eu em relação as pessoas. Mas o paradoxalismo e a complexidade é impressionante... Mesmo com todos esses tormentos nada mais que psicosomáticos, a sensação q vc me passa de importancia e singularidade, mesmo que por vezes não obtenha respostas, faz com que vc esteja no topo do meu coração de verdade. Como aqueles astronautas ou alpinistas que quando chegam no topo hasteiam suas bandeiras, vc tem uma só sua, no meu coração. Isso denota uma dificuldade, um esforço ou apenas dom... Porque poucos subiram lá. Porque embora eu admire muitas pessoas, goste de outras e idealize tantas outras, não significam que elas estejam aqui dentro de mim. E quando digo estar dentro de mim, quero dizer que estão não apenas no meu coração, como também estarão dentro da minha memória a longo prazo, por mais que nossas vidas sigam rumos opostos. Significa que eu não vou mais te esquecer. Significa que vc me engradece. Significa que vc é especial. Significa que eu te amo e como diz o clichê: isso não é 'bom dia'. Significa tudo que vc entender por bonito, sincero e acima de qualquer outro sentimento, pois para mim, a amizade está no máximo.
Obrigada, Renata. Vc é minha melhor terapeuta.