Síndrome de Namoros Adolescentes

Um fenômeno frequente entre jovens (e observado por mim e por minhas companheiras de análises, Manu e Nina) é a Síndrome de Namoros Adolescentes. Ela funciona assim: a menina começa a namorar bem novinha e fica anos a fio com o mesmo sujeito. O tempo passa, eles vão descobrindo coisas um do outro e também sobre si mesmos. E a garota repara que por mais legal e cheio de qualidades que o namorado seja, ele simplesmente não a faz feliz.

Então começa um drama: "Oh meu deus, o que eu faço? Sempre achei que ele fosse o homem da minha vida!". Abandonar essa idéia não é fácil. Principalmente porque a falta de experiências anteriores a deixa ainda mais perdida, afinal, ela não tem nem idéia de como seria um namoro com outra pessoa.

Exatamente por essa falta de noção é que acreditamos piamente que não há, num mundo com 3 bilhões de homens, outro que nos faça feliz. Até porque o sujeito tem suas qualidades... elas apenas não são suficientes para deixar você satisfeita. Você se sente egoista, menosprezando alguém que gosta tanto de você.

Outro fator recorrente ao terminar um namoro longo é o sentimento de derrota. É como se você tivesse que dar a cara a tapa para a sociedade e dizer: "não, meu namoro não era perfeito como parecia". Porque, para muitos amigos e familiares, era evidente que vocês iam acabar casando, não é mesmo? O pós-término, então, vira uma tortura. Basta o Orkut anunciar o novo status para que venha uma chuva de scraps e janelas no MSN: "O queee? Terminaram? Ai que palha, vocês combinavam tanto! Nem acredito!".

Há o medo da solidão, que se acentua quando as amigas estão namorando e só você será a solteira. Ahh, a palavra S O L T E I R A causa repulsa a muitas! É como se fosse sinônimo de fracassada, encalhada, coitadinha... Na Síndrome de Namoros Adolescentes, o lema é "antes mal acompanhada do que só".

A quebra da rotina também detona as recém-ex-namoradas. Elas não tem mais aquela companhia fixa para ver filminhos no final de semana, ir ao shopping, telefonar à noite, etc. No começo, isso desencadeia uma febre: é preciso sair, sair, sair! Badalar o quanto puder, chegar em casa só ao nascer do sol (e bêbada). Bem, depois você nota que algumas festas são um saco, você se sente deslocada e fica olhando as horas pra poder encontrar seu querido travesseiro. Mas, obviamente, é uma foto feliz segurando uma cerveja que você coloca no Fotolog.

Naquele sábado à noite em que todas as amigas já têm compromisso, você afunda. Se sente uma loser indo dormir cedo e sozinha. Fica imaginando que é a única solteira triste e sóbria da cidade. E todos aqueles caras que sempre te elogiam, onde estarão? Será que nenhum deles poderia ser um novo namorado e diminuir a sua carência?

É nesse ponto que você cai numa armadilha: acabou de sair de um namoro e já quer entrar de cabeça em outro. O primeiro gato pingado que você fica já te deixa apaixonada. E se o gato for gato mesmo, putz, ai a paixão é fumegante. Você compara o ex e o atual em tudo, com a vitória absoluta do atual sobre o ex em todos os quesitos. Então o tempo vai passando, você vai conhecendo melhor seu novo namorado, alguns problemas vão surgindo... E a balança, aos poucos, muda de lado. Seu ex era tão mais compreensivo, tão mais maduro, tão mais tudo. Perai, por que ele é ex?

Entããão, a pobre menina carente termina com seu namoradéco e quer voltar pro ex. Ela esquece todos os problemas de que tanto reclamava, afinal, viu que havia coisa bem pior. O cara também promete que vai melhorar, os dois se reapaixonam e crêem que o que passou foi apenas uma manchinha no meio de uma história tão linda.

Doce ilusão. A essência das pessoas não muda e aos poucos os antigos hábitos retornam. De brinde, voltam as velhas brigas, o mesmo desânimo, aquela vontadinha de encontrar alguém que combine mais com você... Tcharam, você voltou à estaca zero, louca pra terminar e morrendo de medo. Eis a Síndrome de Namoros Adolescentes!

Minha psicóloga (que não vejo desde que vim pra Floripa, saudades!) costumava me dizer que para não repetir esse erro, o melhor é esperar alguns meses entre um namoro e outro. Ai você vai digerindo o término, apagando aqueles referenciais fortes que você tinha sobre o que é um namoro, para poder começar um relacionamento saudável com uma nova pessoa. É como se desintoxicar de uma droga, na minha opinião. O começo é difícil, depois você não entende como demorou tanto tempo para tomar uma atitude.

E você descobre que namorar é ótimo, desde que você também saiba ser solteira. Traduzindo: se você consegue ser feliz consigo mesma, sem depender de ninguém, também é capaz de ser imensamente feliz namorando. Porque namorar será uma opção, e não uma obrigação para não ficar sozinha.

Você descobre que passar um sábado à noite em casa, dormindo com sua cachorra e acordando cedo para botar as fofocas em dia com sua mãe, pode ser algo muito mais gostoso do que as várias baladas que te faziam morrer de sono. Você descobre que não pode contar sempre com suas amigas, porque elas também têm vida própria, mas você sempre pode contar com você mesma. E então, você descobre que pode ser solteira, mas jamais estará sozinha.

Ah, uma coisa que eu costumava dizer à minha psicóloga é: "poxa, eu namorei tanto tempo para simplesmente terminar? Se eu tiver mais uns 2 namoros que durem tanto tempo e também terminem, até achar alguém casável já vou ser uma velha". Ela me dava essa resposta, que pude comprovar agora: no começo, a gente demora tanto tempo pra terminar um namoro longo porque também não nos conhecemos.

Com o auto-conhecimento, a gente nota mais facilmente o que gosta e o que não suporta em outra pessoa. É por isso que alguns casais namoram por anos a fio, depois terminam, encontram outras pessoas e se casam em poucos meses. Elas já se conheciam o bastante para analisar seu novo parceiro. E, se não der certo, não vão demorar tanto tempo de novo para voltar à solteirice. Afinal, convenhamos, ela também é bem divertida.