quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Obrigada, meu pai.

"a gente nunca acha que vai acontecer com a gente"... Mentira! A gente acha sim... Mas o fato de achar não muda nada para os ousados (leia-se abusadinhos). Não posso garantir que vai ser a última vez, mas posso afirmar com certeza de que esta vai marcar de fato a minha vida.

Hoje uma porção de imagens mnêmicas invadiram a minha cabeça. Outra sensação como esta ocorreu há mais de 8 anos atrás. Foi numa manhã ensolarada de segunda feira de Agosto de 1999 que me deram a notícia de que meus sonhos nunca mais se realizariam. Eu jamais saberia então o que seria uma casa completa... pai, mãe, eu e meus dois irmãos. Jamais isso aconteceria, porque há poucas horas atrás a parte fundamental do meu sonho teria sido cuspido para fora do carro e uma pedra gigantesca teria lhe causado um traumatismo craniano que lhe custaria a vida. Naquele dia eu envelheci a minha alma em anos. Deixei de ser sonhadora e encarei a minha realidade. Não que fosse ruim, mas não era desejada. E tem gente que diz que eu reclamo de boca cheia... A boca, o armário, as gavetas, a carteira... Tudo é cheio mesmo. Mas meu coração perdeu uma parte, minha vida perdeu sentido... Alguém entende isso?
Foi a partir daquele momento que eu aceitei meus avós como meus pais. E vi que eu sempre tive uma família completa. Mas essa aceitação foi meio fantasiosa. É porque todo mundo esperava isso de mim. Mas no fundo, eu queria mesmo era meu pai de volta. Acho que eu nunca deixei de querer.
PEDRA FILHA DA PUTA!!

Hoje eu vi a minha pedra. Tive a mesma sensação!
Minha pedra na verdade era um pálio vermelho. Em baixissima velocidade, pela pista central da Ponte Rio Niterói, ela foi crescendo aos meus olhos. E por mais que eu reduzisse a velocidade, por maior que tenha sido meu esforço de livrar meu carro, a mim e as duas meninas, que estavam comigo, de perderem também seus sonhos, eu não tive total sucesso.
A pedra foi ficando cada vez maior, minha perna esticada no freio, o carro teria parado se fosse em condições normais... Mas a pista molhada fez com que o carro patinasse e fomos de encontro a traseira daquele pálio.
Meu carro parou. O dele não.
O dele foi arremessado para frente e depois jogado para a lateral da ponte, ameassando capotagem para a pista em direção oposta. Mas voltou. Graças a DEUS voltou!!!! Voltou e caiu novamente na pista do meio.
Eu fiquei estatelada, olhando cada movimento do carro oposto.
Olhei para trás e vi a menina se movimentando, mas a menina ao meu lado entrou em estado de choque.

Gritei! Gritei muito. Gritei e nem senti a garganta doer.
Um pouco de histerismo somado a muita vontade de que eu pudesse abrir meus olhos e acordar de um pesadelo...
Mas não era.
Aquilo tudo tinha realmente acontecido.
Tão logo a ambulancia chegaria e meu pé começaria a doer latejantemente. Reflexo do meu desespero.
Eu dentro de uma ambulancia, sendo atendida pelos paramédicos, dor aqui? E aqui? Ali dói? E aqui?

Do momento em que se vê o perigo até a chegada nele só uma idéia me invadiu: vou morrer! E morrendo, não vou ter tempo de dizer ao Arthur que tudo depende dele.
Não morri.
Não morri, mas é como se eu me despisse de uma alma e vestisse outra.
Deixou de ser tanto por ele expecificamente. Tornou -se também por mim.
Não por qualquer outro motivo, mas porque as pessoas que já eram importantes, ganharam proporção de valores dentro de mim a doses cavalares.
Não cheguei ao meu destino físico, mas cheguei em algum ponto dentro de mim que eu nunca haveria antes chegado. Um lugar onde eu deixo de ser o centro de mim mesma e passo a pensar nas pessoas que realmente importam. Meus avós, Arthur e meus amigos importam. E eu não sei se eu morreria fazendo todos crer dessa importância.
E quando vc encara a morte, a sua vida parece que muda de sentido. Como naquela manhã de 8 anos atrás... Buscar outros sentidos porque o existente ficou invalidado.
Obrigada, meu pai. Por estar viva, por estarem todos vivos, por ter meus avós e também Arthur e meus amigos. É ai que vc vê o quão pequena e inútil você é sozinha. Se o carro deu perca total, aqui dentro, aproveitamento total. Obrigada, MEU pai.


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